O que aprendi com as leituras muitas vezes excitantes, muitas vezes angustiantes, muitas e muitas vezes laboriosas, intrincadas, que careciam de eternos retornos, de pausas, cafés, levantar da cadeira, ajeitar o pescoço, ombros, desistir num dia, retomar no outro, buscar fontes que facilitassem a compreensão? O que aprendi com a lente macro e microscópica de Michel Onfray olhando toda a potência de existir do universo? A naturalidade de Darwin? O rigor e simplicidade de Skinner? A defesa assídua de Dawkins ao evolucionismo? A busca incansável de Antônio Damásio e minha por Espinosa? Tantas repetições dos colorários, proposições e inquietações da Ética? O que dizer do materialismo de Epicuro? Ou Sponville? Isso interessaria a quem, segundo Nietzsche?
O que esses autores, têm a nos dizer? Para que tantas letras? Tantas palavras? Tantas voltas? Tantas afirmações? Tantas dúvidas? Tantas contradições? Tantos deuses? Tantos delírios? Tantos átomos? Tanta matéria? Revolta? Tanta ciência? Tanto empirismo? Pragmatismo? Tanta indiferença? Tantos retornos? Eternos. Tantas contingências analisadas? Descritas? Como essas palavras podem controlar nosso comportamento? Afetar nossa matéria? Criar novas conexões, novos disparos neuronais? O que os livros têm que a vida não tem? O que a vida tem que os livros não têm? Porque recorremos a eles? Com qual objetivo? Quais sentimentos são o pano de fundo deste comportamento? Qual a origem biológica? Evolucionária? Qual respaldo o palco biológico nos oferece para emitir tal comportamento ou será que estamos realmente apenas atuando? Distanciando-nos da realidade? Assim como Messian distingue o canto gratuito dos pássaros, talvez a leitura seja esse equivalente, gratuito porque não tem função biológica aparente, aparente. Mas qual função será? Talvez transmissão de conhecimento? Sobrevivência memética?
Quais são os estímulos emocionalmente competentes que controlam esse encadeamento de respostas que vai desde o buscar a obra, adquiri-la no Amazon ou Estante Virtual, aguardá-lo ansiosamente, checando o rastreamento no site da loja, até a sua chegada, o rasgar do papel, do plástico, da cordinha, às vezes me irrito com tamanha superproteção, como os filhos vítimas dos pais que reforçam livremente, mas por outro lado penso que é positivo, pois assim ele chegará em boas condições, e o rasgar a embalagem é como quebrar da casca do ovo, ajuda a fortalecer as asas para os voos e quedas certas da vida e da leitura. Rasga daqui, puxa dali, a cor da capa aparece, as conexões cerebrais se ativam, a cor é estímulo discriminativo, é ocasião para operantes discriminados encobertos como lembrar-se da capa por completo no site da loja, continuar a descoberta, aumentando a pressão à barra à espera do reforço, eliciando respondentes, alegria, ansiedade? Ele surge, enfim, sós.
Leia, leia os livros através do mundo, leia o mundo através dos livros e surpreenda-se!!!
Ler os textos de um autor nos possibilita a sentir seus desesperos, as palavras presas na garganta e até a ter empatia com sua personalidade. Nenhum livro é escrito em um só dia. Desta forma percebemos a evolução do pensar natural das pessoas que nos possibilita também evoluir duplamente.